Para iniciar essa nova fase, o Babilônia Eletrônika traz profissional da comunicação para responder sobre temas que geram polêmica dentro da mídia, como ética, formação universitária, piso salarial e estágio
Imbituba
Tatiana Stock
Para homenagear os profissionais de comunicação e estudantes de jornalismo pelo dia do jornalista (sete de abril), o Babilônia Eletrônika colocou em pauta vários temas que rondam o meio jornalístico, como a questão do diploma, o piso salarial e as novas tecnologias. Para responder essas questões, entrevistou Darlete Cardoso, jornalista e coordenadora do Curso de Comunicação Social da Unisul, no campus de Tubarão. Com 51 anos de vida, e 33 voltados à profissão de jornalista, Darlete é graduada em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo e em Administração, além de ser especialista em Jornalismo e mestre em Ciências da Linguagem.
Para a profissional, o jornalismo foi escolhido pelo encanto de informar. “Pela paixão de levar informação às pessoas, pela oportunidade de aprender todos os dias assuntos e áreas diferentes, pelo privilégio de conhecer pessoas com histórias das mais diversas, pelo desafio que é usar a palavra para transformar, mesmo que minimamente, a vida de alguém em algum sentido”, justifica Darlete. Abaixo você confere na íntegra a opinião da jornalista sobre o mercado da comunicação.
B - Darlete qual sua opinião sobre a obrigatoriedade do Diploma no jornalismo?
Considero muito importante a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalismo por várias razões: Primeiro, pelo fato de que a imprensa no Brasil ainda é bastante jovem, em relação a demais países desenvolvidos, como EUA e Europa, por exemplo. Considerando que a imprensa teve seu início no país com a Imprensa Régia, após a vinda da Família Real ao Brasil, em 1808. Então, temos "apenas" pouco mais de 200 anos, o que é pouco considerando a evolução que se precisa ter. Em segundo, vivemos vários períodos de ditadura, quando a imprensa sempre foi bastante afetada, através da censura. Podemos citar a própria Imprensa Régia, período em que era proibido qualquer tipo de manifestação que não fosse à oficial; o período da ditadura Vargas, de 1930 e por último a do governo militar. Considero que ainda estamos reaprendendo a ter liberdade de expressão. Pode-se dizer que hoje a imprensa vive um período de ditadura do capitalismo, que transforma a informação em mercadoria. Considerando todas essas questões, penso que a formação pode contribuir para a liberdade de expressão, para a responsabilidade e a ética no exercício profissional. Fazer jornalismo não é apenas uma questão de técnica, mas de ética, estética e conhecimento, no sentido filosófico mesmo, aproximando mais o jornalismo do estado da arte e pensando mais na sua contribuição com a cidadania. E nesse sentido, a formação universitária se torna importante, pois oferece essa base ao profissional.
B - E sobre o piso salarial para a categoria, por que até hoje não é levado à risca?
Hoje já temos um quadro melhor nesse sentido do pagamento do piso. Os veículos de comunicação que primam pela qualidade e credibilidade não podem prescindir de jornalistas melhor formados e conseqüentemente melhor remunerados. Ainda temos alguns casos, é verdade, de veículos que não respeitam a remuneração base de seus profissionais. Mas penso que tudo é uma questão de evolução. Em nossa região, por exemplo, ainda guardamos resquícios do tempo que quase não tínhamos profissionais formados. O curso de Jornalismo da Unisul, por exemplo, formou sua primeira turma em 1996, o que é pouco tempo para a transformação completa do mercado de trabalho.
B - E quanto ao estágio?
Temos algum avanço nessa questão do estágio. A Fenaj aprovou um documento Programa Nacional de Projetos de Estágio Acadêmico, que prevê regras para a realização do estágio pelo jornalista. Através desse programa, os estudantes de Jornalismo podem estagiar mediante acordo entre o Sindicato dos Jornalistas, universidade e empresa jornalística. Ainda temos poucos casos de estágios dentro dessa modalidade, tendo em vista a novidade do programa.
B - E a solução para o concorrido mercado de trabalho é o concurso público?
Primeiro, penso que a concorrência no mercado existe para todas as profissões. No jornalismo não é diferente. Por isso, a questão da profissionalização é fundamental para concorrer nesse mercado. No caso do concurso público, esta é uma das alternativas do mercado de trabalho. Uma alternativa interessante é o empreendedorismo, ou seja, a autonomia profissional. As novas tecnologias estão aí para mostrar que as iniciativas diferenciadas podem ser pensadas para a conquista de espaço no mercado. Nunca a comunicação foi tão importante como nos tempos atuais e as empresas estão em busca de maior visibilidade no mundo competitivo. Assim, aquele que apresentar alternativas interessantes pode assegurar seu espaço no mundo do trabalho.
B - Como você classifica o jornalismo na região sul de SC?
Classifico como um mercado em evolução e caminhando a passos largos para a profissionalização completa. Como mencionei acima, a formação profissional é recente, com a criação do curso de Jornalismo na Unisul. Nesse período, presenciamos uma transformação importante na região sul, com a criação de jornais diários, semanários, emissoras de TV (a Unisul TV é um exemplo), profissionalização das emissoras de rádio, jornalismo nas organizações e assessoria de imprensa em franco desenvolvimento, além de sites, portais e blogs noticiosos que a cada dia são colocados à disposição da sociedade. Sou bastante otimista em relação ao jornalismo e acredito que tivemos uma grande evolução nesse sentido. A própria sociedade, de forma geral, sabe reconhecer o veículo profissional do amador.
B - Que meios indica a população como comunicação de qualidade?
Qualquer meio pode ser de qualidade, se bem entendi a pergunta. Basta que ele seja produzido por profissionais competentes e preocupados com a informação que transmitem à sociedade.
B - Muito se discute dentro do jornalismo sobre novas tecnologias, a internet ainda é um dos temas de maior polêmica dentro da profissão, qual é a sua opinião sobre o web jornalismo, ele acabará com o jornal impresso? Por quê?
A internet é uma alternativa, por um lado, de acesso à informação, e por outro, de mercado de trabalho. Talvez um dos meios mais democráticos de transmissão e recepção de informação, ainda que nem todos tenham acesso. Também sou otimista em relação a essa polêmica: penso que o impresso ainda tem uma vida longa. Precisamos, na verdade, é repensar o jornalismo impresso para que ele se torne mais analítico e contextualizado. As pessoas vão à internet, como vão à TV e ao rádio, buscar informações, mas é no impresso que pode ter a interpretação, a transformação da informação em conhecimento da realidade social.
B - E em relação à TV digital, como ficará o jornalismo? Quais serão as percas e os ganhos desse novo instrumento?
Ainda é muito cedo para uma avaliação segura da TV digital. O que sabemos hoje é que é uma realidade e temos de nos preparar para ela. Inicialmente, podemos dizer que pode trazer uma contribuição importante para a democratização da informação. Mas o que temos hoje ainda está no nível técnico. Não pensamos ainda em conteúdos para a TV digital. Entretanto, isso faz parte do próprio processo. Com a internet foi assim: ficamos algum tempo sem saber como seria o jornalismo nessa mídia. Hoje já temos um desenho bastante profissional em muitos casos. Com a TV digital também será assim. No curso de Comunicação Social da Unisul já estamos pensando na preparação profissional para a nova mídia. Adotamos uma disciplina no curso de Jornalismo de Mídias Digitais, que entra na quarta fase do curso. Estamos também finalizando uma pós-graduação, Cibermídia, que vai trabalhar as questões que envolvem o mundo digital, preparando profissionais para atuar nesse mercado.
B - Qual sua opinião sobre jornalistas que arriscam a vida por uma notícia? Como o caso da jornalista americana de origem iraniana Roxana Saberi, detida há quase dois meses no Irã, escrevendo um livro sobre o país e cursando mestrado em política iraniana.
Acredito que quando o jornalista é um apaixonado pela sua profissão e por levar a informação verdadeira à sociedade ele não pensa muito nos riscos nestes tipos de cobertura (guerras, conflitos, etc). Todas as profissões têm seus riscos, de certa forma. Os valores profissionais, nesses casos, estão acima dos riscos. No entanto, prudência e bom senso são sempre bem vindos para quem vai fazer uma cobertura em áreas de conflitos.
B - Hoje como dia do jornalista qual sua avaliação sobre os meios de comunicação de massa no mundo e no Brasil?
Acho que a discussão da questão do diploma é bem oportuna nesta data. Os jornalistas não podem perder essa oportunidade de colocar o tema em discussão e mostrar à sociedade a importância de uma imprensa profissional e à serviço da sociedade, que é o que o jornalismo faz: prestar um serviço público, ou seja, levar informações à sociedade. É uma oportunidade também de refletirmos sobre nossa atuação, se estamos cumprindo o juramento que fizemos no dia da formatura, se estamos colocando nossos saberes a serviço da sociedade. A sociedade, por outro lado, pode também avaliar criticamente se o que consome de informação está ajudando a sua vida para que possa escolher melhor os meios que vai acessar. Enfim, é um dia de reflexão para todos.
B - Podemos dizer que a população tem livre acesso a informação?
Penso que sim, apesar de muitas vezes nem saber disso (risos). Brincadeiras à parte, o acesso à informação é livre sim, porque a pessoa pode trocar a canal da TV ou mesmo desligá-la, pode trocar a emissora de rádio ou simplesmente desligá-lo também. Pode escolher o jornal que vai ler todos os dias. Pode diversificar lendo revistas das mais variadas procedências. E aqueles que têm computador e internet, nem se fala: podem acessar milhões de informações.
B - Uma mensagem a todos os jornalistas independente da área escolhida.
Gostaria de deixar uma mensagem de otimismo em relação à profissão, que é apaixonante e de grande responsabilidade social. Ainda que a profissão seja desregulamentada, como se está discutindo atualmente, os veículos e as empresas ainda vão precisar de profissionais competentes e diferenciados, porque a comunicação vai continuar sendo, sempre e mais, fundamental na vida das pessoas. A nossa profissão exige conhecimento, empatia, seriedade e responsabilidade porque lida com algo sensível que é comunicação, sempre tão questionada tanto pelo excesso quanto pela falta. Assim, conscientes do papel da comunicação, poderemos prestar um serviço muito melhor às pessoas e contribuir para a transformação social num mundo tão desigual e injusto.
“Pois o jornalismo é uma paixão insaciável que só se pode digerir e torná-lo humano por sua confrontação descarnada com a realidade. Ninguém que não tenha sofrido pode imaginar essa servidão que se alimenta dos imprevistos da vida. Ninguém que não tenha vivido pode conceber sequer o que é essa palpitação sobrenatural da notícia, o orgasmo das primícias, a demolição moral do fracasso. Ninguém que não tenha nascido para isso e esteja disposto a viver só para isso poderá persistir num ofício tão incompensável e voraz, cuja obra se acaba depois de cada notícia como se fora para sempre, mas que não permite um instante de paz enquanto não recomeçar com mais ardor do que nunca no minuto seguinte".
Gabriel Garcia Márquez
Jornal Popular Catarinense, quinta-feira, 09 de abril de 2009. Edição nº960 - Ano VIII - Imbituba/SC
quinta-feira, abril 09, 2009
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