terça-feira, setembro 16, 2008

Review: Respect - Mistura de cores, tribos e formas


Manter vivo o espírito trance nas pessoas, essa foi uma das características da Respect edição 2008, que em parceria com o Festival Universo Paralello concretizou sua proposta, transformou o sítio Vale das Brisas, em Itu em uma verdadeira reunião alternativa. Uma festa bonita, com traços contra culturais dos anos 60, com suas cores, texturas, artesanato, arte, intervenções, apresentações artísticas e culturais.
Devido a problemas técnicos, a abertura do chill out e da pista tiveram atraso, mas não deixaram a desejar. Para o ambient stage o grupo Pilse de São Paulo em parceria com hare crishna deram abertura ao espaço voltado para meditação e relaxamento, com sons de mantras indianos. Seguindo esse contexto, ao som de violino, flauta, percussão e DJ set, o projeto Pilse e os artistas do salamandra iniciaram a celebração com um círculo de pessoas embaladas ao som orgânico deram boas vindas a respect. “Essa apresentação foi uma mistura de som dos monges tibetanos, índios da Amazônia e flauta com o som dos Andes. A junção foi um som orgânico baseado no transe.”- explica Goedi do grupo Pilse. Para Gisele Tressi, o início da festa foi algo único – “Curti muito a abertura, o circulo com as mãos dadas, as palavras da menina sobre energia e também quando queimaram as palavras do tema da festa, foi inesquecível”. Já Flávio Livovschi, que chegou as quadro horas da manhã e participa pela primeira vez de uma rave, diz que nunca imaginou que a festa poderia ser tão diferente – “Vim acompanhar minha amiga, não imaginava que seria assim, o pico é lindo e o astral está ótimo! Adorei o ritual do amanhecer.”
A luz negra e os efeitos visuais produzidos no dance floor estavam em total harmonia com o som, que com a entrada do veterano DJ Swarup movimentou a pista com seu set de Goa, feito especialmente para o evento.“Para mim essa apresentação foi uma das melhores de muito tempo, a música mais nova que toquei foi de 1998.”- orgulha-se Juarez.
A decoração seguiu a temática psicodélica dos anos 60, com panos gigantescos de artistas marcantes da época, figuras hindus, mandalas e animais em 3D. Cesar, um dos artistas da decoração fez o “macaco minhoca”, especialmente para o evento: “Eu já havia feito outro animal em 3D para o UP, agora aprimorei a idéia e trouxe a respect” – comenta ao lado de sua obra de cinco metros de extensão. A estrutura dos palcos foi montada pelo pessoal de Brasília, já as mandalas e decorações, pelas equipes Kundalini, Geômetra e Guerra.
Durante toda a manhã de domingo o ambient stage estava enérgico e dançante com pegadas de electro break e funk. Com o passar do tempo, o som foi se transformando em sons mais leves, um verdadeiro templo. O Chillas, assim como a pista estava em sintonia com a temática e o clima de festival, decorado com panos de deuses Indus, muitas cores, luz negra e deliciosos aromas de incensos que eram constantemente acesos durante a festa. Ao lado do chill out foram colocadas tendas de comida, artesanato e meio ambiente.
No meio da manhã, Renan Teixeira e sua equipe fizeram uma demonstração de suspensão, onde penduraram um dos rapazes por dois cabos que passavam por suas costas. O público ficou atento a toda apresentação. Para muitos, foi só mais uma atração da festa, já outros se assustaram com o que viram, como foi o caso de Nicole Aun, que nunca havia presenciado uma suspensão “Estou chocada, me deu até dor de estomago”. Renan, que tatua há quatro anos e faz suspensão há dois, afirma que essa é uma forma de viver - “Não é loucura é estilo de vida” – complementa.
Além da pista e do chill out, o evento dispôs de área para estacionamento, portaria, praça de alimentação, espaço para yoga, tendas alternativas com amostra de artesanato, malabares, projetos voltados ao meio ambiente e stands de roupas. Samuel Lopes, 26, estava longe das raves há 10 anos e diz que de lá pra cá mudou muito. “Desde a minha última festa há uns 10 anos, eu não sentia a “pseudo” liberdade que a festa proporciona, as estruturas estão maiores, o número de pessoas cresceu muito e principalmente as atividades dentro da festa, isso não existia antes”. Já a freqüentadora Erica Maidlinger, achou a festa bem diferente e misturada: “Achei o povo mais eclético, a festa remeteu mais a essência do trance”. Mesmo com o som de primeira, algumas coisas ficaram em haver, como observa o freqüentador assíduo de festas Ricardo Alberti – “Fiquei uma hora na fila para comprar bebida, quando chegou minha vez tinha acabado a água no meio da tarde. Faltou caixas e mais pessoas no bar” – reclama. Lucas Toledo disse que estava indo embora da festa por estar com fome e não ter o que comer e beber. “A vibe ta boa, eu não queria ir embora, mas é o cúmulo que às cinco horas da tarde não tenha mais nada na praça de alimentação, nem ficha mais eles estão vendendo”- reforça o tranceiro.
De acordo com Murilo Ganesh, da organização da respect, a festa não estava preparada para um número tão grande de pessoas. “Erramos na logística, não estávamos preparados para tanta gente. A venda de ingressos antecipados foi de 2.200 até quinta-feira à noite, mas durante a festa calculamos de 3.000 a 3.500 pessoas!” – esclareceu o organizador.
O DJ Shove não compareceu, mas mesmo assim o público pode prestigiar o projeto 28 – Twenty Eight, dos DJs Pedrão e Shove, tocado unicamente por Pedrão que não deixou a pista parar por nem um minuto. “É a primeira vez que toco sozinho, foi algo diferente e muito especial” – empolga-se. Pedrão que está com o set bem psicodélico defende a linha psicodélica, que de acordo com ele está sendo apagada por outras ramificações. “Acredito na luta pela resistência do psicodélico no transe” – complementa Pedro.
Logo após sobe ao palco o live de psy: Heterogenesis, dos argentinos de Buenos Aires Alejandro Galvani e Jeorge Uena. Alejandro disse que essa foi a primeira vez que se apresentam na respect, mas que não será a última. Durante a festa tocaram duas tracks novas com pegada mais groove. “As músicas novas ainda estão sem nome” – explica Alejandro. Paralelo a esse projeto, Alejandro tem o Cosmos Vibration, um live de full on com mesclas de goa.
O sol tomou conta de toda a festa e foi à vez do conhecido live: Burn in Noise. O DJ Gustavo Manfroni mesclou músicas do novo álbum: “Passing Clouds”, com pegadas mais sérias e psicodélicas. E o público respondeu a cada track dançando muito.
Durante a tarde, na apresentação do DJ Edu (RESPECT/FOP), bolhas de sabão se espalhavam pela pista, juntamente com girassóis, e flores de variadas cores e tamanhos. A vibe da festa estava contagiante, a pista que não parou um minuto se quer. Para finalizar seu set, Edu terminou com o clássico “Maluco Beleza” de Raul Seixas. Depois dele, entrou o projeto Lógica, live dos irmãos gêmeos Bhaskar e Alok. Os meninos que começaram a tocar em janeiro de 2004, mostraram que o incentivo dado por Pedrão, Zumbi e pelos pais não foi em vão. Eles aprimoraram sua música e dominaram o mainstream. Para o DJ Smurf, o live Lógica foi à melhor apresentação da festa “Com certeza o som deles é o melhor de hoje” – comenta Smurf. A dupla que diz procurar uma linha séria está sempre alterando suas apresentações. “Sempre mudamos alguma coisa no live porque é sempre uma nova experiência, nunca é igual, cada vez é uma reação única”- revela Bhaskar. O ápice da apresentação foi à música Smack My Bitch Up (Logica RMX), a pista entrou em delírio! “Essa foi uma das melhores apresentações, estou muito feliz” – completa Alok logo depois de deixar o palco.
Enquanto isso, o chill out estava recebendo o grupo paulista Pedra Branca que depois de quase uma hora de preparação mostrou seu som único e envolvente. Com mesclas de músicas novas e antigas.
Logo após o sol se por, Etay Harari, de Israel sobe ao palco com seu live Etic, que ele mesmo classifica como: “deep psy prog”, seu som alternativo e psicodélico embalou a pista com músicas do seu último álbum até anoitecer. “Fiz esse set na última hora e fico feliz que público tenha correspondido tão bem. Estou muito feliz por tocar aqui no Brasil” – confessa Etay e alerta aos DJs brasileiros que estão faltando projetos de psy. Fábio Leal entrou em cena
“To curtindo tocar coisas diferentes. Hoje meu som é progressivo psicodélico”. E logo depois Gui Milani fechou a pista com muito minimal para os sobreviventes da respect.

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William Clement Stone